Além da Imaginação Real: E se? São Paulo estivesse em Chamas!? # Parte Final
Do lado direito havia o Shopping Santa Cruz, do esquerdo, o Colégio Marista. As placas de publicidade voavam sem controle, atingindo com uma violência absurda as pessoas na multidão. Um pedaço enorme de concreto desabou sobre a bilheteria, estilhaçando os vidros que rodopiaram com violência e atingiram as pessoas. Muitos caíram como se fossem atingidos por tiros. Abaixei-me e virei à esquerda, mas precisei me segurar numa das máquinas de recarga de bilhete único. O vento parecia um furacão, mas não abandonei meu objetivo, não queria estar lá quando o que estava vindo pelo túnel chegasse. Deitado no chão eu fiz o máximo de força para rastejar até a escada, usei as máquinas de recarga como apoio e impulso. Acho que arranquei a última e sofri um corte no tornozelo. Consegui chegar à esquina da escada, detritos voavam para dentro da estação e o vento quase me levantou, mas me segurei no corrimão. Havia um carro capotado na escada do meio, pessoas atingidas por ele. Umas mortas por esmagamento, outras ainda vivas, presas sob o carro, muito sangue espirrado nas paredes e nos degraus. O dia havia escurecido fora de hora e havia muito barulho de batidas de carros na rua e o vento quente rugindo numa velocidade de furacão. Olhei para trás pensando seriamente em voltar, talvez pelo outro lado conseguisse algum abrigo melhor no Shopping Santa Cruz. O chão tremeu mais forte, o pavor aumentou e uma força animalesca tomou conta dos meus músculos. Um homem preso sob o carro, mas ainda vivo, esticou o braço para mim como se quisesse me salvar. Talvez fosse o contrário, mas aproveitei e segurando-me no seu braço e no carro, subi uma boa parte da escada. Ele berrava com as pernas esmagadas sob o carro e não queria me soltar. De dentro da estação ouvi uma gritaria de pavor chegando cada vez mais perto. Chutei o meio homem que me segurava, chutei com fúria e ele me soltou. Escalei o carro e deparei-me com uma árvore caída no fim da escada. O vento empurrava a copa, mas o tronco e as raízes estavam enroscados na grade do Colégio Marista, que contorna aquela saída da estação. Eu não podia me arriscar a passar por baixo do tronco e ser esmagado. Segurei-me no carro e sem querer olhei para dentro: havia uma criança na cadeirinha, de cabeça para baixo, com os braços balançando. A árvore toda começou a fazer um movimento violento, como um boi bravo, arrancou a grade e voaram numa velocidade alucinante. Rastejei pela lateral da escada e protegi-me atrás do muro do colégio, uma construção do século XIX. Na avenida os carros eram arrastados sem controle, capotando como se fossem de brinquedo, pessoas e árvores voavam como papéis. A grua das obras de ampliação do metrô tombou, fazendo a lateral do shopping desmoronar e o vento levou o resto aos poucos. O chão tremeu com mais violência e as pessoas começaram a sair correndo da estação, com a força incrível do desespero, mas eram carregadas pelo vento como jornal velho. O muro que me abrigava começou a rachar, mais e mais pessoas saíam correndo de dentro da estação, algumas em chamas. Uma bola de fogo subiu as escadas, medindo forças com o furacão. No meio da avenida houve uma explosão que abriu uma cratera de onde jorrava o fogo. Ironicamente, nessa hora um caminhão do Corpo de Bombeiros era arrastado pela avenida como se fosse de plástico e o vento levava a língua de fogo para o outro lado. O barulho da destruição era indescritível. Uma parte do muro do colégio veio abaixo, atingido por um carro, onde havia pessoas dentro. Eu não podia mais respirar perto daquela fúria de elementos, segurei-me no carro com toda força de um sobrevivente, ferindo ainda mais as mãos. Entrei no colégio pelo buraco do muro e o vento me derrubou e arrastou, sem controle, até que parei num canto do jardim. Atordoado, procurei por algum modo de entrar no prédio do colégio, mas as janelas eram altas. Foi nessa hora que vi a torre da Igreja da Saúde tombar após ser atingida por um helicóptero. E ali, sentindo as maiores dores que já senti, com o braço quebrado, o pé esquerdo virado para o lado errado, com as roupas esfarrapadas, jogado numa pilha de entulho e cadáveres, olhei para cima e vi, erguendo-se imponente no céu, lá pelos lados da Praça da Sé, um improvável cogumelo atômico. Após isso eu apaguei e tudo tornou-se escuridão.
Conto Enviado por: Carlos Henrique Fernandes Gomes
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