Além da Imaginação Real

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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Contos do Além #3: O Velho Da Rua 48!


Nesse exato instante, entra no bar um senhor baixinho e magro, vestido todo de preto e mancando de uma perna. No meio do caminho ele esbarra com quem estava indo na direção contrária, o cara do balcão. Nesse momento, e absurdamente sem cerimônias, o velho começa a falar: – “Você, um cara alto, de cabelo liso caindo nos olhos, porte atlético e rostinho de príncipe da Disney. Tem problemas com a mulher, a filha é rebelde e nunca conseguiu realizar o sonho de ser um escritor de sucesso.” Nesse momento, o homem olha para o velho tentando a todo custo focar a visão, porém, sem muito sucesso. O senhor continua: – “Desconta a frustração da vida no vício da bebida.” O homem se arma para dar um soco, mas repentinamente percebe uma aura sombria no velho, até eu percebi isso, acompanhada de um leve sufocamento. Sem reação, o velho se antecipa e fala: – “E ainda faz o uso de comportamento agressivo para compensar o péssimo desempenho sexual.” Todos no bar caem na gargalhada, quando ele se vira e começa a falar com um dos amigos da sinuca: – “Onde o senhor viu graça, seu metido a playboy? Com essas roupas de marca, cabelinho penteado para o lado, com amiguinhos igualmente esnobes. Esses cigarros que você acende um atrás do outro não vão impedi-lo de perpetuar o câncer que persegue sua desonrada família.” Nesse instante o cara, enfurecido e com olhos flamejantes, pega o taco e parte pra cima do velho, mas na mesma hora um dos seus amigos o impede. – “Não faça isso cara, ele é só um velho ranzinza.” Falou um deles. Foi então que o velho se dirigiu para o balcão. Ficou lá sem pedir nada por um tempo, apenas sentado pensativo, quando uma jovem, de repente, se aproxima. Na mesma hora ele fala: – “Nem venha dar sermão. Não tenho a menor paciência pra ouvir merda de gente como você.” – “Como eu? O que você quis dizer com isso seu velho caquético?” – “Oh, ela é respondona, não surpreende ser tão fracassada. Só de olhar esse rosto de perua, roupas e jóias de grife, que com certeza ganhou da família ou do último otário que a aceitou como esposa.” – “Você só sabe falar dos outros. Se acha mesmo superior, né?” – “Muitos daqui eu falo o que as aparências me contam, mas eu… superior, nunca. Todavia, o que será que aquele estudante que você mandou pra cadeia dando falso testemunho deve estar pensando da senhora nesse instante, hein?” Nesse momento ela cambaleou pra trás, parecia tonta e desnorteada… foi ai que ela bateu violentamente com o copo no balcão e saiu irritada chamando-o de louco. Não demorou e o velho desceu do banquinho, seguindo em direção à saída do bar. Entre um passo cansado e outro, um barulho vindo do banheiro o distrai, fazendo-o desviar do caminho e esbarrar num casal. Eles se desculpam, no mesmo instante em que o velho os chamam de estéreis. – “O quê? O que o senhor falou?” – “Dois imbecis, nunca foram capazes de cuidar um do outro, ainda bem que não podem colocar um filho no mundo.” Essa última frase ele falou virando na direção dos dois. – “Tão bonitos, e tão cheios de pecados. Terno e gravata de grife, óculos e relógio caríssimos, sapato social brilhando, só não mais do que a cara de pau. “ – “Seu velho filho da puta, como ousa…” O velho o interrompeu antes que ele termine a frase e falou olhando para a mulher: – “Vestido de coleção italiana, colares e brincos de dar inveja. Inveja que só não é maior do que a que sente da grama do vizinho.” – “Quem o senhor pensa que é?” – “Falei alguma mentira? Pensar que a impossibilidade de ter filhos foi uma providência divina, é ser muito ameno, para dizer o mínimo.” Após irritar pelo menos metade dos clientes daquele barzinho de beira de estrada, ele finalmente vai embora. 10 minutos se passam, entre discussões, quebras de copos e garrafas nas paredes e cantos de mesa, além de perguntas aos quatro cantos sobre quem era aquele senhorzinho irritante. Muitos estavam incrivelmente chateados com as coisas que ouviram. Chateados como ficam crianças mimadas ao receberem um não. Alguns diziam nunca o terem visto na vida. Outros questionavam se o velho, sequer, tenha visto alguma vez na vida. Seus olhos estavam cobertos por uma névoa. É inegável o clima tenebroso deixado pelo velho naquele bar, uma presença sombria e desconhecida. Depois de um tempo sem Patrícia falar mais nada, Paulo comenta: – “Caramba, ele era cego? Que tosco… é serio isso?” – “Sim, mas como ele sabia a descrição de todo mundo no bar? Tem coisa errada aí. Não é possível.
Cara, ainda bem que Pedro não ficou pra ouvi essa história, até eu fiquei com medo desse velho, desse bar, da rua 48… enfim.
Deu por hoje, vamos jogar alguma coisa.” Falou Phael. – “Pois é, mas eu ainda não terminei a história.” Comentou Patrícia. “Pelo que ele me contou, o dono do bar conhece esse velho das antigas. Tanto que dez minutos após a saída desse senhor, o dono volta para o balcão, e o bar está um completo alvoroço. Sem saber bem o que havia acontecido durante sua saída para o banheiro, a única alternativa foi perguntar o que aconteceu. Sem hesitar, um dos clientes fala que um velho baixinho, magro, vestido de preto, mancando de uma perna e, pelo que todos dizem, cego, disse coisas sem sentido para os clientes… na mesma hora o dono interrompe: – “Como assim gente? Vocês estão loucos? É o velho da rua 48, ontem mesmo eu fui na missa de sétimo dia dele… adorava aquele senhor, o cara era uma figura.”

Fim.
Relato Enviado Por: Rafael Pedrosa 


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