Contos do Além: O Porão
Anos atrás minha família decidiu passar as férias na serra gaúcha, para isso alugaram uma pequena e antiga casa em Gramado, onde ficaríamos durante duas semanas.
No andar térreo da casa, havia a sala, banheiro e cozinha. Os quartos ficavam no andar superior, mas havia ainda um porão que era usado como depósito para coisas velhas, la havia um sofá, armários e outras coisas sem importância.
O primeiro dia na casa foi bem tranquilo, passeamos pela cidade, voltamos a tardinha, fizemos fondue, brincamos e depois todos fomos dormir, pois havia sido um dia bem agitado.
Na segunda noite algo estranho aconteceu, fomos acordados no meio da noite por um grito aterrador vindo do quarto da minha irmã. Quando meu pai chegou correndo até lá, minha irmã estava sentada na cama, ela gritava e chorava muito. Meu pai sentou-se ao lado dela e a abraçou perguntando:
- O que aconteceu?
Ela contou que havia acordado sentindo um cheiro horrível. Quando ela abriu os olhos disse ter visto o quarto inteiro encharcado de sangue, as paredes possuíam marcas de mãos e pés, o liquido vermelho escorria pelas paredes e havia respingos por todos os lados.
Todos pensaram que havia sido apenas um pesadelo, porém minha irmã se recusou a dormir novamente naquele cômodo, acabou se mudando para o quarto de nossos pais até o final das férias.
No outro dia minha mãe estava fazendo o almoço, enquanto meu pai estava fora, então nós fomos explorar o porão, examinando cada coisa velha que havia ali. Até que de repente ouvimos um estalo e a luz se apagou. Apesar de ser dia, o lugar ficava totalmente escuro, era iluminamo somente por uma claridade que vinha do andar superior, nos permitindo ver apenas as paredes de pedra antiga.
Eu comecei a ficar com medo, sem claridade aquele porão era assustador, nós estávamos paralisadas sem saber direito o que fazer. De repente um mau cheiro invadiu o local, me fazendo sentir náuseas. Era um cheiro de carne podre, como se houvesse alguma coisa morta por ali.
Um barulho veio de um canto escuro, parecia que algo se arrastava pelo chão. Eu e minha irmã gritamos e saímos correndo em direção a porta, subimos a escada e lá embaixo ainda podíamos ouvir algo como se estivesse arranhando o chão, o cheiro de podridão aumentava e a porta não estava querendo abrir.
Nós estávamos desesperadas, começamos a bater na porta, e gritávamos sem parar, até que nossa mãe abriu a porta com uma cara de assustada.
Então contamos tudo o que havia acontecido: a escuridão, o cheiro de coisa podre, a coisa se arrastando no chão. Ela prontamente disse que estávamos impressionadas pelo lugar antigo e que desceria até la para substituir a lâmpada que provavelmente havia queimado.
Ficamos apreensivas ali no topo da escada, em quanto ela descia para o porão com uma lâmpada e uma lanterna nas mãos, o tempo que ela ficou la em baixo pareceu uma eternidade.
De repente ela surgiu da escuridão subindo as escadas correndo, fechou a porta do porão e sentou-se em uma cadeira. Seu rosto estava pálido e os olhos estavam arregalados de medo. Então ela disse em uma voz alta, quase gritando:
- Eu não quero que vocês duas desçam mais la, entenderam.
Em seguida ela pegou o telefone e foi para sala onde ligou para a policia. Nós ouvimos ela falando que havia visto alguém no porão, enquanto esperávamos a policia, ficamos todas juntas olhando assustadas para aquela porta que ia para o andar inferior.
Receosas de que a qualquer momento, alguma coisa fosse sair de la, nossa mãe recusou a dizer o que havia visto lá embaixo.
Quando a policia chegou, nossa mãe os recebeu e os chamou para entrar na casa, chegou até a porta do porão a destrancou e eles desceram para aquela escuridão, empunhando lanternas e armas.
Ficaram por um longo tempo procurando, mas não encontraram nada, o mais curioso é que não havia outra forma de sair lá debaixo, pois o portão não tinha outras portas ou janelas.
Assim que os policiais saíram, minha mãe contou o que havia visto la no portão.
Ela estava rosqueando a lâmpada, quando começou a sentir um cheiro horrível, o mesmo que havíamos descrito a ela. Quase em seguida passou a ouvir um barulho estranho, então ela apontou a lanterna por todos os cantos, quando de repente avistou algo entre o móvel antigo e a parede.
Era um homem , ele estava agachado, suas roupas eram sujas e rasgadas, seus cabelos eram compridos e desgrenhados, seu rosto estava desconfigurado e havia uma expressão de ódio.
Assim que a luz da lanterna apontou em seu rosto, minha mãe viu seus olhos, eram vermelhos como sangue, ele então fez um movimento rápido para o lado e desapareceu por entre as coisas velhas que haviam ali. Nesse instante minha mãe deixou a lanterna cair de suas mãos e saiu correndo.
Depois disso tivemos que ficar mais uma noite naquela casa, trancamos a porta do porão e colocamos algumas cadeiras na frente. Todos dormimos no quarto dos meus pais com a porta trancada. Nossas férias acabaram mais cedo e no dia seguinte voltamos para nossa casa.
Pesquisa e Adaptação por: Milena Zorek!
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