Contos do Além: A Brincadeira do Copo!
Parte 2 – No hospital:
O episódio com os quatro adolescentes foi definido como um acidente causado por uma brincadeira boba. Quando questionaram Bárbara sobre o que tinha acontecido ela disse que, no escuro, tropeçou e caiu várias vezes, esbarrando nas cadeiras. Ela preferiu não contar a verdade, pois quem iria acreditar que com uma brincadeira eles haviam evocado um espírito do mau?
Bárbara estava almoçando quando viu Artur, José e Caio entrarem pela porta de seu quarto no hospital onde se recuperava. Ela sentiu um aperto forte no coração, algo estava errado. Os três, que alguns dias antes eram alegres, fortes e vivos agora pareciam zumbis. Estavam pálidos, com os olhos fundos e andavam curvados.
“Nossa e eu pensando que tinha levado a pior.” – disse ela em seu tom brincalhão.
Ninguém riu. Seus olhares desesperados contavam que algo muito ruim estava acontecendo. Artur foi o primeiro a se aproximar. Ele se aproximou de Bárbara e segurou sua mão. Bárbara notou que ele estava segurando para não chorar.
“Aquela brincadeira foi um erro.” – disse Artur. “Você não faz ideia do que estamos sofrendo. E também pelo que aconteceu com você. Essa entidade que nós evocamos está nos atormentando, todos os dias e todas as noites.” – completou enquanto limpava uma lágrima caindo de seu rosto.
“Vocês tem que contar isso para seus pais. Alguém vai ajudar vocês.” – disse Bárbara.
“Não. Ele disse que se contarmos para alguém nós vamos morrer.” – respondeu Caio.
“Vocês jogaram de novo? Eu não acredito. Que falta de responsabilidade, olha o que aconteceu comigo.”
“Não tivemos escolha. Como eu disse, ele está nos atormentando. O fantasma aparece a qualquer hora ou lugar. Ele não pode se comunicar, mas eu o vejo o tempo todo. Dentro do meu guarda-roupas, no banheiro ou quando estou comendo. Quando durmo tenho pesadelos onde ele me leva para um lugar escuro e no sonho eu viro seu escravo. Ontem eu estava conversando com minha mãe e estava a ponto de contar tudo pra ela, mas ele apareceu. Ficou fazendo gestos como se estivesse cortando o pescoço dela ou a enforcando.” – respondeu José.
“O mesmo esta acontecendo comigo e com o Caio.” – completou Artur. “Eu peguei o tabuleiro e nos reunimos na casa do Caio. Lá o espírito nos disse que só vai nos deixar em paz quando nós fizermos a brincadeira do copo na cave.”
“Não contem comigo, eu já paguei caro pelo meu erro. Acho perigoso vocês o fazerem também, a energia de lá é negativa. Vocês já escutaram as histórias e lendas urbanas que envolvem o lugar. Isso está me cheirando como uma armadilha.” – disse Bárbara.
“É verdade. Mas que escolha nós temos? Eu tenho medo de contar para algum adulto e ele acabar saindo machucado, ou pior. Se não formos ele nunca irá nos deixar em paz.” – disse José.
Enquanto os outros conversavam, Caio afastou-se do grupo e andou em direção a janela. Eles estavam no sexto andar do hospital e a paisagem que se via era linda e hipnotizante. Uma vontade de pular repentina correu por seu corpo. Ele não entendia aquele sentimento, mas pensava que saltar o faria sentir-se livre. Algo como solucionar um problema sério ou ler a última página de um livro ruim. Aquela sensação foi crescendo dentro dele e seguindo um instinto incontrolável ele subiu na poltrona que ficava a beira da janela. Alguém chamou seu nome com um grito. Ele sabia que era um grito pelo tom, mas a voz chegou abafada em seu ouvido. Ele decidiu que não era importante dar atenção ao chamado e colocou uma perna para fora da janela.
Todos gritaram e correram em direção a Caio. Bárbara foi a primeira. Ela saltou já em direção a janela. A agulha do soro presa ao seu braço rasgou sua pele. Ela gritou, mas sem hesitar por um segundo alcançou a camisa de Caio e o segurou firme. Os demais finalmente chegaram para ajudá-la a segurar o corpo de caio que todavia pendia para fora. Eles puxaram o rapaz para dentro e o deitaram no chão, segurando-o com força.
Piscando os olhos Caio parecia voltar a si. Com olhos confusos ele observou os três segurando-o ao chão. Percebendo que ele parecia voltar a si seus amigos o soltaram.
“O que aconteceu Caio?” – perguntou Artur.
“Eu não sei, não consigo explicar. Em um momento eu estava aqui, no outro eu estava na janela prestes a pular. Um sentimento mais forte que me dizia para pular. Que estranho. Se não fosse por vocês eu estaria morto.” – respondeu Caio com voz tremula e olhos cheios de lágrimas.
Todos se viraram para Bárbara que segurava seu braço tentando estancar o sangue que saia do corte feito pela agulha quando ela pulou para salvar Caio. Ela franziu a testa.
“É só um corte bobo, vocês tem coisa muito mais importante para se preocuparem.” – respondeu com um tom áspero.
Artur sentiu um frio na barriga. Uma vontade de abraçá-la. Observou com detalhes seu rosto branco e seus lábios pequenos e rosados. Bárbara era durona e as vezes mal encarada, mas ele sabia que por dentro daquilo tudo, havia uma menina insegura e doce. Ele sentiu seu rosto queimando e sabia que estava vermelho. Com sorte ninguém iria notar. Será que ele estava se apaixonando por ela? Ele chacoalhou a cabeça e desviou seu pensamento.
“Talvez depois que isso tudo estiver terminado.” – pensou.
Depois de algumas horas discutindo possíveis soluções para o problema e sem chegar a uma resolução os três rapazes foram embora. Logo depois, Sofia, mãe de Bárbara, chegou ao hospital.
“Oi filhota.” – saudou Sofia. “Mamãe veio dormir com você.” – completou apertando a bochecha da filha que franzindo a testa tirou a mão da mãe de seu rosto. “Você está estressada nenê? Olha o que eu trouxe pra para a janta.”
Sofia retirou da sacola um hambúrguer e uma batida de morango. Bárbara como sempre tentou disfarçar a felicidade, pois gostava de fazer papel de durona até para sua família, mas sua mãe a conhecia bem. Cedendo finalmente a alegria de ver aquele x-tudo e o batida de morango ela abriu um belo sorriso.
As duas comeram e conversaram sobre diversos assuntos e assistiram televisão. Quando o hospital começou a ficar mais silencioso elas se prepararam para dormir. Sofia ajeitou-se no pequeno sofá do quarto.
“Mãe, a senhora acredita em vida após a morte?” – perguntou Bárbara.
“Eu não sei filha. Eu procuro não pensar nisso. Você sabe, seus avós são católicos então eu ia a igreja quando era pequena, mas na verdade não sei em que acreditar. Por que você esta perguntando?”
“Quando eu tive o acidente no auditório eu pensei que eu iria morrer e fiquei com medo. As vezes também tenho medo de espíritos, almas penadas e outras coisas.” – disse Bárbara procurando uma maneira de contar tudo para a mãe.
“Não tenha medo filha. Eu nunca vi ou senti nada, mas também nunca procurei. Eu acho que essas coisas são melhores se são deixadas em paz. E sobre a morte eu penso que se existe vida após a morte deve ter algo bom pra mim do outro lado, pois eu tenho a consciência limpa. Se não existe eu não saberei, pois estarei morta. Então pra que me preocupar.” – disse Sofia.
“A senhora tem razão. Boa noite.” – respondeu Bárbara.
As duas dormiam profundamente. Mestre, como gostava de ser chamado, andava de um lado para o outro no quarto do hospital pensando em alguma maneira de atormentar a vida delas e neutralizar Bárbara. Ele sabia que ela era uma ameaça ao seu plano.
Ele era uma entidade demoníaca. Andava pela terra trazendo desgraça e sofrimento para as pessoas. Havia pouco que podia fazer em sua verdadeira forma. A surra que havia dado em Bárbara veio a grande custo. Materializar-se para tal feito não era fácil. Exigia energia acumulada por anos. Mas ele sabia que compensava, pois Artur era a conexão perfeita com o mundo material para poder continuar sua obra de terror.
Ele sentia um grande poder em Bárbara. Ela tinha uma personalidade forte e uma força de vontade rara. Mas não era só isso, algo mais, mas ele não podia entender o que era. De qualquer maneira, ela era uma ameaça e ele tinha que acabar com ela ali mesmo.
Mestre estava fraco para executar um assassinato sozinho. Sufocar-la seria simples, mas ele não conseguiria materializar-se o suficiente para segura-lá a cama e tampar sua boca e nariz ao mesmo tempo. Ele começou a enviar energias negativas para todos os lados requisitando ajuda de outras entidades. Não seria difícil conseguir, pois haviam muitos pelo mundo que o deviam favores. Não era incomum a troca de favores e o trabalho em grupo. Algumas atividades exigiam legiões inteiras para serem executadas.
Em questão de segundos, mãos saíam de baixo da cama entrelaçando Bárbara como correntes. Ela acordou imediatamente, tentou gritar, mas Mestre já tinha materializado suas mãos e agora cobria não só sua boca, mas também o nariz de Bárbara.
Sentindo-se vitorioso Mestre sorriu desfrutando o momento, mas algo inesperado ocorreu. Bárbara para de se debater e sua aura começa irradiar luz. Com o quarto mais iluminado ela pôde ver a imagem de mestre. Ele era horroroso, mas ela com seu bom humor imaginou que ele poderia ser o filho do Frankenstein com o Corcunda de Notre Dame. Mestre escuta os pensamentos de Bárbara e sente debaixo de suas mãos que a boca, que antes procurava desesperadamente por ar, agora sorria.
Uma fúria incontrolável se apoderou do Mestre, ele foi perdendo sua concentração e suas mãos começaram a desmaterializar, fazendo com que a entidade ficasse mais furiosa. Nesse momento o inimaginável aconteceu. Mestre sentiu que Bárbara estava em sua mente. Pela primeira vez em milhares de anos era ele quem estava sendo invadido e dominado.
Bárbara sentiu seus pulmões enchendo-se de ar novamente. Aliviada ela olhou para o Mestre que parecia estar furioso. Ela o olhou nos olhos tentando imaginar o que ele queria. Uma imagem começou a se formar em seu pensamento. O sorriso que estava em seu rosto começou a desfazer-se.
Na primeira imagem, um homem estava carregando uma cruz passando por um corredor formado por uma multidão. Outros vinham atrás segurando chicotes na mão. Mestre estava ali. Ele não podia ser visto pelos demais, mas gritava dando ordens aos carrascos para seguir machucando o homem carregando a cruz. A imagem desfez-se.
Na segunda imagem, homens com trajes medievais lutavam entre sim. Soldados invasores trancavam as pessoas em suas casas ateando fogo ao teto de palha. As mulheres eram levadas para uma carroça fechada com grades de madeira enquanto esperneavam. Outra vez mestre estava ali gritando ordens de ódio.
Na terceira imagem, soldados vestidos de verde, com uma faixa com a cruz suástica amarrada no braço esquerdo estavam em volta de uma mesa onde observavam um mapa. Um homem de cabelo oleoso penteado de lado e com um bigode pequeno, apontava o mapa dando ordens a seus subordinados. Mestre estava ao seu lado sussurrando ao seu ouvido.
A quarta imagem mostrava o mundo mais moderno, o atual. Dois rapazes vestidos com sobretudos pretos e longos andavam por uma escola. Ao entrar em uma sala de aula eles abriram o sobretudo, sacando armas e matando vários de seus colegas. Novamente Mestre estava lá gritando e dançando ao som de gritos desesperados e armas de fogo.
A próxima imagem mostrava Artur e José caminhando por um shopping com cara de suspeitos. Cada um deles carregava uma mochila que parecia muito pesada. Antes que a imagem prosseguisse Bárbara começou a tremer. A vontade de acabar com Mestre foi aumentando, seu corpo irradiava cada vez mais luz até que uma explosão de energia vinda de seu corpo irradiou todo o quarto. Mestre a olhava confuso e com medo.
“Eu não vou deixar.” – disse ela.
Mestre e todas as mãos que a seguravam desapareceram do quarto. Bárbara olhou para sua mãe que estava dormindo sem saber de nada que estava acontecendo. O relógio ainda apontava cinco da manhã. Ela iria esperar amanhecer e contar tudo aos demais.
Enquanto isso, Mestre estava nos confins da Cave. Tudo havia mudado. Como iria executar seu plano agora? Ele sabia que o mundo estava cheio de gente com poderes como o de Bárbara, mas ele sempre tomava cuidado para não se aproximar de uma delas. O poder da garota estava adormecido e ele o havia despertado. Maldição. Agora mais do que nunca ele não podia falhar ou poderia sofrer sérias conseqüências. Ele não iria falhar.
Agora sua única chance de sucesso seria pressionar os três rapazes a fazerem a brincadeira do copo na caverna antes de Bárbara contar o que havia visto ou pudesse intervir. Uma vez que conexão com Artur fosse completa e o rapaz seria seu escravo até a morte.
Continua...
O episódio com os quatro adolescentes foi definido como um acidente causado por uma brincadeira boba. Quando questionaram Bárbara sobre o que tinha acontecido ela disse que, no escuro, tropeçou e caiu várias vezes, esbarrando nas cadeiras. Ela preferiu não contar a verdade, pois quem iria acreditar que com uma brincadeira eles haviam evocado um espírito do mau?
Bárbara estava almoçando quando viu Artur, José e Caio entrarem pela porta de seu quarto no hospital onde se recuperava. Ela sentiu um aperto forte no coração, algo estava errado. Os três, que alguns dias antes eram alegres, fortes e vivos agora pareciam zumbis. Estavam pálidos, com os olhos fundos e andavam curvados.
“Nossa e eu pensando que tinha levado a pior.” – disse ela em seu tom brincalhão.
Ninguém riu. Seus olhares desesperados contavam que algo muito ruim estava acontecendo. Artur foi o primeiro a se aproximar. Ele se aproximou de Bárbara e segurou sua mão. Bárbara notou que ele estava segurando para não chorar.
“Aquela brincadeira foi um erro.” – disse Artur. “Você não faz ideia do que estamos sofrendo. E também pelo que aconteceu com você. Essa entidade que nós evocamos está nos atormentando, todos os dias e todas as noites.” – completou enquanto limpava uma lágrima caindo de seu rosto.
“Vocês tem que contar isso para seus pais. Alguém vai ajudar vocês.” – disse Bárbara.
“Não. Ele disse que se contarmos para alguém nós vamos morrer.” – respondeu Caio.
“Vocês jogaram de novo? Eu não acredito. Que falta de responsabilidade, olha o que aconteceu comigo.”
“Não tivemos escolha. Como eu disse, ele está nos atormentando. O fantasma aparece a qualquer hora ou lugar. Ele não pode se comunicar, mas eu o vejo o tempo todo. Dentro do meu guarda-roupas, no banheiro ou quando estou comendo. Quando durmo tenho pesadelos onde ele me leva para um lugar escuro e no sonho eu viro seu escravo. Ontem eu estava conversando com minha mãe e estava a ponto de contar tudo pra ela, mas ele apareceu. Ficou fazendo gestos como se estivesse cortando o pescoço dela ou a enforcando.” – respondeu José.
“O mesmo esta acontecendo comigo e com o Caio.” – completou Artur. “Eu peguei o tabuleiro e nos reunimos na casa do Caio. Lá o espírito nos disse que só vai nos deixar em paz quando nós fizermos a brincadeira do copo na cave.”
“Não contem comigo, eu já paguei caro pelo meu erro. Acho perigoso vocês o fazerem também, a energia de lá é negativa. Vocês já escutaram as histórias e lendas urbanas que envolvem o lugar. Isso está me cheirando como uma armadilha.” – disse Bárbara.
“É verdade. Mas que escolha nós temos? Eu tenho medo de contar para algum adulto e ele acabar saindo machucado, ou pior. Se não formos ele nunca irá nos deixar em paz.” – disse José.
Enquanto os outros conversavam, Caio afastou-se do grupo e andou em direção a janela. Eles estavam no sexto andar do hospital e a paisagem que se via era linda e hipnotizante. Uma vontade de pular repentina correu por seu corpo. Ele não entendia aquele sentimento, mas pensava que saltar o faria sentir-se livre. Algo como solucionar um problema sério ou ler a última página de um livro ruim. Aquela sensação foi crescendo dentro dele e seguindo um instinto incontrolável ele subiu na poltrona que ficava a beira da janela. Alguém chamou seu nome com um grito. Ele sabia que era um grito pelo tom, mas a voz chegou abafada em seu ouvido. Ele decidiu que não era importante dar atenção ao chamado e colocou uma perna para fora da janela.
Todos gritaram e correram em direção a Caio. Bárbara foi a primeira. Ela saltou já em direção a janela. A agulha do soro presa ao seu braço rasgou sua pele. Ela gritou, mas sem hesitar por um segundo alcançou a camisa de Caio e o segurou firme. Os demais finalmente chegaram para ajudá-la a segurar o corpo de caio que todavia pendia para fora. Eles puxaram o rapaz para dentro e o deitaram no chão, segurando-o com força.
Piscando os olhos Caio parecia voltar a si. Com olhos confusos ele observou os três segurando-o ao chão. Percebendo que ele parecia voltar a si seus amigos o soltaram.
“O que aconteceu Caio?” – perguntou Artur.
“Eu não sei, não consigo explicar. Em um momento eu estava aqui, no outro eu estava na janela prestes a pular. Um sentimento mais forte que me dizia para pular. Que estranho. Se não fosse por vocês eu estaria morto.” – respondeu Caio com voz tremula e olhos cheios de lágrimas.
Todos se viraram para Bárbara que segurava seu braço tentando estancar o sangue que saia do corte feito pela agulha quando ela pulou para salvar Caio. Ela franziu a testa.
“É só um corte bobo, vocês tem coisa muito mais importante para se preocuparem.” – respondeu com um tom áspero.
Artur sentiu um frio na barriga. Uma vontade de abraçá-la. Observou com detalhes seu rosto branco e seus lábios pequenos e rosados. Bárbara era durona e as vezes mal encarada, mas ele sabia que por dentro daquilo tudo, havia uma menina insegura e doce. Ele sentiu seu rosto queimando e sabia que estava vermelho. Com sorte ninguém iria notar. Será que ele estava se apaixonando por ela? Ele chacoalhou a cabeça e desviou seu pensamento.
“Talvez depois que isso tudo estiver terminado.” – pensou.
Depois de algumas horas discutindo possíveis soluções para o problema e sem chegar a uma resolução os três rapazes foram embora. Logo depois, Sofia, mãe de Bárbara, chegou ao hospital.
“Oi filhota.” – saudou Sofia. “Mamãe veio dormir com você.” – completou apertando a bochecha da filha que franzindo a testa tirou a mão da mãe de seu rosto. “Você está estressada nenê? Olha o que eu trouxe pra para a janta.”
Sofia retirou da sacola um hambúrguer e uma batida de morango. Bárbara como sempre tentou disfarçar a felicidade, pois gostava de fazer papel de durona até para sua família, mas sua mãe a conhecia bem. Cedendo finalmente a alegria de ver aquele x-tudo e o batida de morango ela abriu um belo sorriso.
As duas comeram e conversaram sobre diversos assuntos e assistiram televisão. Quando o hospital começou a ficar mais silencioso elas se prepararam para dormir. Sofia ajeitou-se no pequeno sofá do quarto.
“Mãe, a senhora acredita em vida após a morte?” – perguntou Bárbara.
“Eu não sei filha. Eu procuro não pensar nisso. Você sabe, seus avós são católicos então eu ia a igreja quando era pequena, mas na verdade não sei em que acreditar. Por que você esta perguntando?”
“Quando eu tive o acidente no auditório eu pensei que eu iria morrer e fiquei com medo. As vezes também tenho medo de espíritos, almas penadas e outras coisas.” – disse Bárbara procurando uma maneira de contar tudo para a mãe.
“Não tenha medo filha. Eu nunca vi ou senti nada, mas também nunca procurei. Eu acho que essas coisas são melhores se são deixadas em paz. E sobre a morte eu penso que se existe vida após a morte deve ter algo bom pra mim do outro lado, pois eu tenho a consciência limpa. Se não existe eu não saberei, pois estarei morta. Então pra que me preocupar.” – disse Sofia.
“A senhora tem razão. Boa noite.” – respondeu Bárbara.
As duas dormiam profundamente. Mestre, como gostava de ser chamado, andava de um lado para o outro no quarto do hospital pensando em alguma maneira de atormentar a vida delas e neutralizar Bárbara. Ele sabia que ela era uma ameaça ao seu plano.
Ele era uma entidade demoníaca. Andava pela terra trazendo desgraça e sofrimento para as pessoas. Havia pouco que podia fazer em sua verdadeira forma. A surra que havia dado em Bárbara veio a grande custo. Materializar-se para tal feito não era fácil. Exigia energia acumulada por anos. Mas ele sabia que compensava, pois Artur era a conexão perfeita com o mundo material para poder continuar sua obra de terror.
Ele sentia um grande poder em Bárbara. Ela tinha uma personalidade forte e uma força de vontade rara. Mas não era só isso, algo mais, mas ele não podia entender o que era. De qualquer maneira, ela era uma ameaça e ele tinha que acabar com ela ali mesmo.
Mestre estava fraco para executar um assassinato sozinho. Sufocar-la seria simples, mas ele não conseguiria materializar-se o suficiente para segura-lá a cama e tampar sua boca e nariz ao mesmo tempo. Ele começou a enviar energias negativas para todos os lados requisitando ajuda de outras entidades. Não seria difícil conseguir, pois haviam muitos pelo mundo que o deviam favores. Não era incomum a troca de favores e o trabalho em grupo. Algumas atividades exigiam legiões inteiras para serem executadas.
Em questão de segundos, mãos saíam de baixo da cama entrelaçando Bárbara como correntes. Ela acordou imediatamente, tentou gritar, mas Mestre já tinha materializado suas mãos e agora cobria não só sua boca, mas também o nariz de Bárbara.
Sentindo-se vitorioso Mestre sorriu desfrutando o momento, mas algo inesperado ocorreu. Bárbara para de se debater e sua aura começa irradiar luz. Com o quarto mais iluminado ela pôde ver a imagem de mestre. Ele era horroroso, mas ela com seu bom humor imaginou que ele poderia ser o filho do Frankenstein com o Corcunda de Notre Dame. Mestre escuta os pensamentos de Bárbara e sente debaixo de suas mãos que a boca, que antes procurava desesperadamente por ar, agora sorria.
Uma fúria incontrolável se apoderou do Mestre, ele foi perdendo sua concentração e suas mãos começaram a desmaterializar, fazendo com que a entidade ficasse mais furiosa. Nesse momento o inimaginável aconteceu. Mestre sentiu que Bárbara estava em sua mente. Pela primeira vez em milhares de anos era ele quem estava sendo invadido e dominado.
Bárbara sentiu seus pulmões enchendo-se de ar novamente. Aliviada ela olhou para o Mestre que parecia estar furioso. Ela o olhou nos olhos tentando imaginar o que ele queria. Uma imagem começou a se formar em seu pensamento. O sorriso que estava em seu rosto começou a desfazer-se.
Na primeira imagem, um homem estava carregando uma cruz passando por um corredor formado por uma multidão. Outros vinham atrás segurando chicotes na mão. Mestre estava ali. Ele não podia ser visto pelos demais, mas gritava dando ordens aos carrascos para seguir machucando o homem carregando a cruz. A imagem desfez-se.
Na segunda imagem, homens com trajes medievais lutavam entre sim. Soldados invasores trancavam as pessoas em suas casas ateando fogo ao teto de palha. As mulheres eram levadas para uma carroça fechada com grades de madeira enquanto esperneavam. Outra vez mestre estava ali gritando ordens de ódio.
Na terceira imagem, soldados vestidos de verde, com uma faixa com a cruz suástica amarrada no braço esquerdo estavam em volta de uma mesa onde observavam um mapa. Um homem de cabelo oleoso penteado de lado e com um bigode pequeno, apontava o mapa dando ordens a seus subordinados. Mestre estava ao seu lado sussurrando ao seu ouvido.
A quarta imagem mostrava o mundo mais moderno, o atual. Dois rapazes vestidos com sobretudos pretos e longos andavam por uma escola. Ao entrar em uma sala de aula eles abriram o sobretudo, sacando armas e matando vários de seus colegas. Novamente Mestre estava lá gritando e dançando ao som de gritos desesperados e armas de fogo.
A próxima imagem mostrava Artur e José caminhando por um shopping com cara de suspeitos. Cada um deles carregava uma mochila que parecia muito pesada. Antes que a imagem prosseguisse Bárbara começou a tremer. A vontade de acabar com Mestre foi aumentando, seu corpo irradiava cada vez mais luz até que uma explosão de energia vinda de seu corpo irradiou todo o quarto. Mestre a olhava confuso e com medo.
“Eu não vou deixar.” – disse ela.
Mestre e todas as mãos que a seguravam desapareceram do quarto. Bárbara olhou para sua mãe que estava dormindo sem saber de nada que estava acontecendo. O relógio ainda apontava cinco da manhã. Ela iria esperar amanhecer e contar tudo aos demais.
Enquanto isso, Mestre estava nos confins da Cave. Tudo havia mudado. Como iria executar seu plano agora? Ele sabia que o mundo estava cheio de gente com poderes como o de Bárbara, mas ele sempre tomava cuidado para não se aproximar de uma delas. O poder da garota estava adormecido e ele o havia despertado. Maldição. Agora mais do que nunca ele não podia falhar ou poderia sofrer sérias conseqüências. Ele não iria falhar.
Agora sua única chance de sucesso seria pressionar os três rapazes a fazerem a brincadeira do copo na caverna antes de Bárbara contar o que havia visto ou pudesse intervir. Uma vez que conexão com Artur fosse completa e o rapaz seria seu escravo até a morte.
Continua...
Pesquisa e Adaptação: Milena Zorek!
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