Além da Imaginação Real

Além da Imaginação Real

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Contos do Além: A Vingança!

Este é um conto baseado em fatos reais, onde os nomes dos envolvidos, assim como dos locais onde ocorreram os fatos, foram alterados para evitar identificação e/ou constrangimento.


O Sr. William Baker, cidadão inglês, um dos conceituados diretores de uma grande empresa multinacional, aceitou sua transferência para uma filial, no Estado do Rio de Janeiro, com a condição de que pudesse morar em uma cidade de temperatura amena como Friburgo, Petrópolis ou Teresópolis, por exemplo. Ele, sua esposa Daisy e a enteada Esther, filha do primeiro casamento dela, viviam em uma mansão vitoriana, no interior da Inglaterra, e pretendiam adquirir, no Brasil, um imóvel que possuísse características semelhantes.
Com a ajuda da irmã de Daisy, que já estava morando aqui há mais de cinco anos, conseguiram comprar, na cidade de Petrópolis, um antigo casarão colonial, estilo europeu, que mais parecia um castelo, reunindo a comodidade de uma cidade grande com a tranqüilidade de uma cidade do interior.
Reformado e bem conservado, o imóvel foi adquirido diretamente do último proprietário. 
William ficou bem feliz com sua aquisição e logo se mudou para a nova residência, com a mulher a enteada e um cachorro.
Três meses depois de instalados, o casal foi despertado às três horas e quinze minutos da madrugada por três fortes batidas na porta de seu quarto. O marido levantou-se, abriu a porta e, não vendo ninguém, dirigiu-se ao quarto da enteada, e verificou que ela estava dormindo tranquilamente, como se não tivesse ouvido nada. Fez uma vistoria nas janelas e, constatando que tudo se encontrava em ordem, voltou para seu quarto. Conversou com a mulher, que já estava sentada na cama, mas não chegaram a nenhuma conclusão a respeito do fato.
Na noite seguinte e na terceira noite, no exato momento em que o relógio de cabeceira mudava o visor digital para 3:15, aconteciam as três batidas fortes na porta do quarto do casal. Nas duas vezes, os dois acordaram assustados, e o marido correu pela casa toda para ver se encontrava algum invasor. Chegou a pensar que podia ser brincadeira da menina, mas, na terceira vez que aquilo voltou a acontecer, a criança acordou gritando por ter tido um pesadelo. Entretanto, a partir do quarto dia, as batidas na porta cessaram, permanecendo assim, por exatos trinta dias.
Após o trigésimo dia, apesar de estarem no verão, William entrou no quarto de casal, em uma tarde e achou-o estranhamente frio, a ponto de poder ver o vapor da própria respiração. Sentiu uma sensação de falta de ar, nunca sentida antes.
Resolveu ficar acordado naquela noite o quanto pudesse, deixando a porta aberta e as luzes acesas. A mulher, a seu lado, logo adormeceu. Pouco depois de duas horas da manhã, ele não resistiu e adormeceu também.
Exatamente à mesma hora, às três e quinze da madrugada, William despertou de sobressalto, com três fortes batidas na porta. Para sua surpresa, percebeu que as batidas aconteceram como se a porta estivesse fechada, mas ela ainda estava aberta. Foi quando viu, emoldurado pelo caixilho da porta, a figura de um homem idoso, baixo, magro e mal vestido, usando um chapéu de palha, um lenço ensebado, no pescoço, e umas botas velhas, sujas de barro. A primeira coisa que pensou foi que, provavelmente, tinha esquecido a porta dos fundos aberta e algum vagabundo havia entrado. Levantou-se e gritou para o sujeito:

– O que você quer? Como entrou aqui?

O homem não respondeu e continuou parado, com uma expressão de espanto estampada no rosto, como se olhasse para alguma coisa que não estava ali, naquele momento, como se não estivesse vendo o dono da casa na sua frente. William avançou em sua direção e, quando tentou dar-lhe um empurrão, suas mãos simplesmente atravessaram o corpo do homem. William perdeu o equilíbrio e caiu, e viu que o velho havia desaparecido. Pensou que tudo tinha sido imaginação ou sonambulismo, pois a mulher continuava dormindo como se nada tivesse acontecido. Com o coração pulando no peito, sentou-se na beira da cama para respirar fundo e se acalmar.
Nesse momento, a mulher acordou.

– Você não vai dormir? – perguntou ela.

Ainda muito nervoso, ele contou o que havia acontecido.

– Fique aí! Vou pegar um copo de água com açúcar pra você – disse a esposa.

Para chegar à cozinha, ela passava por um corredor, cuja lâmpada estava queimada. Ela caminhava olhando onde pisava, quando seus olhos bateram em dois pés calçando botinas. Levantou os olhos e viu um homem, de meia idade, bem vestido e limpo, usando roupa preta e chapéu. Parecia um fazendeiro rico, parado ali, no meio do corredor, em frente à porta da cozinha. Achou estranho, a figura estar tão clara e visível se não havia luz no corredor. Ainda assim, pensou que se tratava de alguém que havia invadido a casa para roubar.

– William, corre aqui – gritou para o marido.

Ao mesmo tempo armou um soco, tentando atingir o homem, com toda a força que podia.
Sua mão passou como se tivesse atravessado um holograma, indo bater no caixilho da porta da cozinha, ferindo bastante a pele. Com o impulso, ela rodopiou e caiu de costas. A imagem do homem apagou-se, instantaneamente. Percebendo que se tratava de alguém de outro mundo, Daisy ficou aterrorizada. Seu marido chegou correndo para ajudá-la. Levantou-a do chão e levou-a de volta para o quarto.
Nos dias que se seguiram, o fantasma do senhor bem vestido voltou a aparecer na casa e o casal começou a perceber que ele não lhes causava nenhum mal, apenas caminhava pela casa e desaparecia sempre em direção a um mesmo ponto da parede da sala. Numa das vezes em que ele surgiu, o marido chamou a esposa para ver. Ela se aproximou e tentou tocar o fantasma com a palma da mão e ele desapareceu imediatamente. Isso voltou a acontecer outras vezes.
No quinto dia, após o terem visto pela primeira vez, o fantasma levantou a cabeça deixando que vissem seu pescoço, onde havia um corte horrível, de uma orelha à outra. Um ferimento aberto, com pedaços de tecido expostos.
A filha do casal ainda não havia presenciado nada, quando em uma noite chuvosa com muitos relâmpagos, em que a mãe estava com ela em seu quarto, fazendo-lhe companhia para que ela dormisse, elas escutaram passos fortes no corredor, que vinham na direção do quarto. Acreditaram que William tinha resolvido ir ver como as duas estavam. Porém, ao olharem na direção da porta do quarto, constataram que a mesma estava aberta, e elas a haviam fechado por dentro.
O quarto estava bem iluminado por uma lâmpada elétrica. Nesse momento perceberam o olhar do cachorro, petrificado de medo, olhando na direção da porta. Não viam ninguém, apenas ouviam os passos de alguém invisível caminhando devagar, atravessando o quarto.
O cachorro, sem se mover, acompanhava com os olhos e o movimento da cabeça, lentamente, dando a elas a certeza de que estava vendo a pessoa que caminhava ali, cujo som dos passos, mesmo ao cruzar o tapete no centro do quarto, não diminuiu de volume, e foi se elevando no ar, como se a pessoa estivesse subindo uma escada de madeira. Em seguida, ouviu-se o ruído de um trinco de uma porta ou portinhola que parecia dar acesso a outro cômodo na parte superior do quarto. E os passos terminaram em um possível sótão ou mezanino, que parecia ter o piso também feito de madeira, a julgar pelo som dos passos, antes de desaparecerem totalmente. Tudo isso de forma impossível e inexplicável, já que, logo acima deste quarto se localizava no segundo andar, não havia mais nada além do telhado da casa.
Conversando com o antigo proprietário, o casal ficou sabendo que, antes das reformas efetuadas no imóvel, havia, no lugar daquele quarto, um acesso a um andar superior, e que toda a madeira da escadaria e do assoalho daquele antigo pavimento havia sido removida. Na sala, no andar de baixo, ficava uma porta que fora retirada, e o espaço fechado com tijolos – o que justificava o fato (essa foi a conclusão do casal) de o fantasma sempre desaparecer caminhando na direção daquela parede.
William e Daisy não queriam dizer que haviam visto fantasmas na casa, para não parecerem pessoas desequilibradas emocionalmente, mas também não pretendiam sair do escritório do sujeito sem averiguar direitinho se ele sabia alguma coisa a respeito das assombrações.

– O senhor já usou alguma vez aquela casa para sua própria moradia? – perguntou o Sr. William.

– Não. Eu apenas adquiri aquele imóvel para reformar e revender. Nunca aluguei ou morei lá – disse o homem.

– O vento, no local, por ser muito forte e bater portas e janelas, pode assustar as pessoas e deixá-las impressionadas. Em um casarão daquele tamanho, com tantos quartos e corredores, as pessoas podem pensar que viram coisas que, na realidade, não existem – concluiu, como se estivesse adivinhando o real motivo da pergunta.
As últimas palavras do ex-proprietário deixaram bem claro, para o casal, que ele sabia de alguma coisa e estava escondendo.
Nas semanas seguintes, as assombrações no casarão ficaram mais intensas, e a família resolveu pedir então a visita do padre da região para benzer a casa ou executar um exorcismo, mas receberam uma negativa sem muitas explicações.
Tomaram conhecimento, através de pessoas amigas, da existência de uma famosa médium que já havia exorcizado outras residências perturbadas por espíritos malignos, e resolveram chamá-la.
A mulher, de meia idade, morena, de cabelos longos, tingidos de preto, chamada Suzana, chegou acompanhada de um pesquisador técnico – um sujeito branco, gordo e muito suado, munido de um sofisticado equipamento eletrônico – e de um parapsicólogo, o doutor Alfredo Carducci – homem de baixa estatura, usando cavanhaque e bigode, vestindo um colete preto, sobre a camisa branca, e terno cinza, meio surrado.

– Estou com a estranha sensação de que estamos diante de um grupo de charlatães – disse William à esposa.

Depois das apresentações e de estarem todos devidamente instalados, a médium concentrou-se (parecia estar rezando) durante uns dois minutos, logo em seguida, foi sacudida por dois estremecimentos no corpo, entrando em transe. Estava incorporada (assim entenderam as pessoas que a assistiam) de seu guia espiritual. Fez uma saudação e começou a falar.
Contou que na cidade, no século XVIII houve um presídio provisório, onde muitas pessoas foram torturadas e mortas, e que aquela tinha sido a casa do chefe da Guarda Policial, um homem corrupto e ganancioso.
Enquanto a mulher falava, o técnico captou, na tela de sua câmera, dois vultos, como se fossem dois reflexos de luz ou dois hologramas, de tamanhos diferentes. Chamou o parapsicólogo para ver. William se aproximou também e chamou a esposa.

– Vem ver, Daisy, acho que são eles.

– Para nós, eles se materializaram algumas vezes – disse a mulher, dirigindo-se ao pesquisador, sem entender porque, naquele momento, apenas o equipamento estava captando a presença dos fantasmas.
O doutor Alfredo explicou que, às vezes, os espíritos se mostram apenas para aquelas pessoas com quem querem interagir. Quando estão na frente de outras pessoas, só um equipamento eletrônico é capaz de acusar a presença deles.
Nesse momento a médium Suzana, que trazia as mãos cruzadas sobre o peito, começou a se sacudir e levou as mãos à garganta. O casal arregalou os olhos e percebeu que o rosto da mulher se transformou, adotando a expressão do fantasma degolado.

– Quem é você? – perguntou o parapsicólogo, percebendo que a médium havia incorporado o espírito perturbador da casa.

Através da mulher, o espírito contou sua história com a voz, inicialmente, muito sufocada, tornando-se mais clara pouco a pouco, no decorrer do relato.
Ele era um homem poderoso, chefe político do interior, chamado de coronel pela população do lugar. Aquela era a casa dele, que foi usurpada pelo chefe da guarda policial, que mandou prendê-lo e ordenou ao carcereiro que lhe cortasse a língua. Porém, o carcereiro, que era amigo do coronel, não cumpriu a ordem. O chefe da guarda, então, invadiu a cadeia, matou o carcereiro e degolou o prisioneiro com sua espada, depois apoderou-se de todos os seus bens, inclusive sua mulher e o filho pequeno. Agora ele queria vingança.

O Sr. William e sua esposa concluíram que o outro homem, mais idoso, de baixa estatura que, inicialmente, foi visto na casa, devia ser o carcereiro.

– Esta não é mais a sua casa – disse o doutor Alfredo, voltando a falar com o espírito incorporado na médium. 

– Este homem que aqui está é o novo proprietário, e não tem nada a ver com o usurpador. O Chefe da Guarda não existe mais, você está livre agora, pode esquecer a vingança e voltar para sua mulher e seu filho.

– Não! – gritou o fantasma, com uma voz gutural, transmitindo muito ódio, difícil de se acreditar que estava saindo da boca de uma mulher.

 – Estes são os três: o miserável, minha mulher e meu filho, e eu quero vingança.

A médium sofreu um estremecimento e saiu do transe. Baixou a cabeça e colocou a mão direita espalmada na testa. O espírito do coronel havia abandonado seu corpo. Suzana e seus dois acompanhantes conversaram alguma coisa em voz baixa e chegaram à conclusão de que a família devia abandonar a casa, pois o espírito do coronel estava convencido de que eles eram as reencarnações do chefe da guarda, sua mulher e filho, estavam muito ligado à casa. Podia estar enganado com relação à reencarnação, mas não descansaria enquanto não se vingasse.
Sem perder tempo, o casal chamou um caminhão de mudanças e começaram a desarrumar tudo naquele instante. Haviam virado a noite acompanhando o trabalho da sensitiva, e já eram nove horas e trinta minutos da manhã, quando a médium e seus dois auxiliares se despediram e se retiraram.
Quando caía a tarde, o carro da família com o casal e a filha, estava na frente, e o caminhão os acompanhava, logo atrás, descendo a serra. Já tinham para onde ir, pois a irmã de Daisy tinha um grande apartamento reformado e vazio, que ela  havia oferecido a eles, assim que lhe contaram sobre os primeiros acontecimentos sobrenaturais na casa.
Desciam a serra com um certo alívio por estarem se afastando de um lugar tão carregado de energia negativa. O marido ia ao volante, com a esposa ao lado, e a filha, no banco de trás.
Quando iniciaram o trecho mais íngreme da descida, William sentiu faltar o freio. Como o veículo já havia atingido uma velocidade considerável, ele tentou engatar uma marcha de redução, mas não conseguiu. A velocidade do carro só aumentava e cantava pneus nas curvas. A mulher começou a gritar, deixando a menina assustada, no banco de trás. Em um trecho mais reto, o homem tentou aproximar as rodas do carro da proteção de beira da estrada, para ver se provocando atrito, reduziria a velocidade, mas foi pior, pois o carro bateu com a roda dianteira direita em um buraco, deu um salto e ficou desgovernado, atravessando a proteção do acostamento, indo em alta velocidade na direção das grossas árvores que ladeavam a pista.
O carro bateu fortemente em uma das árvores, justamente naquela que tinha um enorme galho apontado, à meia altura. O galho quebrou o pára-brisa e atravessou o pescoço de William, quase o decepando totalmente. A mulher e a filha foram protegidas pelo sinto de segurança.
Quando conseguiu se recompor, a mulher, que havia sofrido apenas uma leve pancada na cabeça, sem maiores gravidades, ficou descontrolada quando viu a situação do marido, com a cabeça pendida para o lado da janela do carro, presa apenas por alguns tendões. Voltou-se para o banco de trás para saber da filha, e viu que ela estava bem, apenas assustada. Quando olhou para fora, pela janela do seu lado, viu, entre as árvores, o fantasma do coronel olhando na direção deles com o rosto tranqüilo.
Parecia até menos feio, sua imagem foi se apagando aos poucos até desaparecer completamente. 
     
Pesquisa e Adaptação por: Milena Zorek!



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